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Como se alivia um coração pesado?

Como foi dito nos textos anteriores, estamos vivendo um momento muito difícil porque uma guerreira está ferida.

 

Dia desses conversando com minha esposa lembramos que doenças não fazem parte de minha vida, não sou de gripar, de ter febre, nenhuma patologia grave (Graças a Deus) e lembrei também que meu pai, mãe e irmãos também não são de adoecer, raramente temos algo que nos preocupamos, no máximo uma crise alérgica com a mudança de estação, normalmente entre o verão/Outono e/ou Inverno/Primavera.

Lembro-me que na infância, não sei ao certo em que ano, fui visitar minha mãe no hospital, ela havia sido internada para a retirada de algum caroço ou algo similar, mas não me lembro exatamente o motivo. Passados esses anos todos não houve outra ocorrência parecida, nenhum internamento nem grandes problemas de saúde.

O momento atual me remeteu a esse tempo e numa das conversas que tivemos, minha mãe e eu, ha algumas semanas ela me falou: "filho não chore, a vida inteira eu não adoeci, em algum momento isso ia acontecer". Essa frase tem ecoado em minha mente desde então e nesses dias, que aqui estou, aquela frase fica martelando em minha mente de quando acordo até quando vou me deitar. Fico imaginando o que passa na cabecinha dela, saber que seu combustível está acabando e que em algum momento ela estará na glória com minhas tias e avó.

Nesses últimos dias,  acho que tem muita coisa que vem me incomodando, estar longe de minha esposa, o fato de ver minha mãe nessa situação (tão debilitada), o fato de eu estar próximo a ela e não poder conversar estava realmente me tirando do centro, era como se eu estivesse conversando sozinho, mesmo ela estando ao meu lado e isso é uma coisa totalmente nova pra gente. Ontem pela manhã, aconteceu algo diferente, me aproximei da cama, sentei-me ao seu lado, ela abriu os olhos, me olhou, fez o sinal de legal com o punho direito, levantou a mão em direção ao meu rosto e começou a acariciar. Entendi naquele momento que ela estava demonstrando em gesto tudo o que tivemos durante toda a vida, uma mãe super dedicada, carinhosa e muito mais muito sábia mesmo, ela conseguiu me colocar nos eixos (eu não era uma criança fácil). Alguns minutos se passaram e comecei a conversar com ela, falei sobre o sonho de sábado a tarde, falei das coisas que tinha ouvido no sonho e o quão real parecia, como tinha ouvido sua voz dentro do meu ouvido, havia sentido sua mão em minha cabeça me acalmando e me dizendo o que eu deveria fazer. Percebi que quando terminei de falar lágrimas caíram de seus olhos e ela começou a tentar se comunicar de tal forma que depois de 5 minutos eu conseguia entender o que ela estava falando e quando me dei conta estávamos ali conversando, não como antes porque todo aquele contexto não permitia, mas de alguma forma estávamos conversando. Contei a ela sobre Bernardo, Calila, Mel, falamos um pouco sobre meu trabalho, sobre como a casa está sendo organizada para a chegada de Bê, de quando fizemos o trato, para eu não vir no dia das mães, expliquei que tinha sido complicado não ter vindo mas que mesmo sendo complicado eu havia cumprido e que não tinha quebrado o trato, ja que não era mais o dia das mães. 

 Acho que hoje entendi minha inquietação nesses dias e cheguei a conclusão de que era vê-la, mesmo debilitada, tentar conversar com ela e não obter resposta. Depois da nossa conversa, fui almoçar, deitei-me ao seu lado fiquei ali quietinho, sem falar nada, só olhando e ela da mesma forma, ficou me olhando, conversando por olhares. Na sequência ela dormiu e eu fiquei lá, olhando pra ela uns minutos antes de também adormecer. Fui acordado pelo meu Pai, fui para o outro quarto, adormeci novamente e quando acordei estava lá, o coração e almas leves. 

Havia tido mais um momento, ao lado de minha mãe, daqueles que jamais irei esquecer e não canso de repetir Te amo mãe!

 

Fiquei imaginando como seria a relação de Bernardo com a mãe dele e comigo, o sorriso abriu em meu rosto, o coração se encheu de alegria, de alguma forma uma mensagem posou em meu coração e dizia: “se acalme, ela não vai por agora”.

A tranquilidade que sempre tive retornou, na casa de meu irmão vi meu sobrinho Michel conversando e brincando com ele e me vi naquele cenário daqui há alguns anos, o sorriso já estava no rosto, o coração se alegrou ainda mais,  sabia que aquele momento de felicidade ficará marcado na memória do meu sobrinho e que quando Bernardo chegar teremos nossos momentos também, imaginei as brincadeiras que farei com ele, os passeios e as conversas “de pai pra filho”, adormeci feliz e leve, na certeza que coisas não tão boas fazem parte da vida mas que as alegrias jamais serão esquecidas, assim como eu me lembro de algumas coisas de minha infância, com detalhes tive alguma certeza que com Bernardo não será diferente!

 

 

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